Ron Hill, recordista da Maratona de Boston, que correu 52 anos seguidos todos os dias, morre aos 82 anos

Ron Hill, um dos maiores corredores de maratona de todos os tempos, que quebrou o recorde da Maratona de Boston e também inspirou o movimento “streaking” ao correr todos os dias por mais de 52 anos, morreu em sua cidade natal de Hyde, Cheshire, Inglaterra, em 23 de maio. Ele tinha 82 anos. Há três anos, ele anunciou que sofria de demência.

A posição de Hill na história da corrida de elite repousa em uma seqüência superlativa de corridas que começou em 1968, quando ele estabeleceu duas vezes o recorde mundial de 10 milhas (46: 44,0). Em 1969, ele ganhou o campeonato europeu de maratonas no difícil percurso da Maratona a Atenas. Em abril de 1970, ele quebrou o recorde da Maratona de Boston por 3 minutos, correndo 2:10:30, tornando-se o primeiro britânico a vencer a corrida. Três meses depois, ele ganhou a maratona dos Jogos da Commonwealth em Edimburgo em outro grande recorde europeu, britânico e dos Jogos de 2:09:28.

Isso o tornou apenas o segundo na história a quebrar 2:10, depois do australiano Derek Clayton. Alguns estatísticos contestam a medição do curso para o desempenho de Clayton na Antuérpia e listam Hill como o detentor do recorde mundial de 1970-74.

Hill também quebrou o recorde britânico de 6 milhas e estabeleceu recordes mundiais de 15 milhas (1: 12: 48.2) e 25K (1: 15: 22.6) na pista. Ele ganhou campeonatos britânicos em 6 milhas, 10 milhas, cross country e maratona. Suas vitórias na maratona de alto nível incluíram Windsor-to-Chiswick, Manchester, Maryland, e duas em Enschede, além de terminar em segundo lugar em Fukuoka, Harlow e Windsor-Chiswick. Ele acabou completando 115 maratonas, vencendo 21, com mais 21 no pódio. Ele correu mais rápido do que 2:20 num total de 29 vezes.

Intensamente competitivo em todas as corridas e fervorosamente dedicado em seu treinamento, Hill atingiu seus anos de pico em uma era estritamente amadora, quando nenhuma receita relacionada à corrida era permitida. Na Grã-Bretanha, também era a época em que as corridas de equipe estavam no auge, de modo que um competidor comprometido como Hill corria forte às vezes duas vezes por semana, por seu clube (Bolton United Harriers), Universidade (Manchester), condado (Lancashire), ou nação (Inglaterra para cross-country, Grã-Bretanha na pista).

Na história do treinamento de longa distância, ele está próximo de Paavo Nurmi, Emil Zatopek, Jim Peters e Arthur Lydiard por ter testado pessoalmente os limites de quantidade e intensidade de corrida que são benéficos, ou mesmo possíveis.

Hill poderia vencer na frente, como quando correu sozinho na maratona dos Jogos da Commonwealth de 1970 e passou 10K em 29:24 (ritmo da maratona de 2:04); ou poderia vencer uma corrida apertada de última hora, como quando cruzou a linha para arrebatar o título de cross-country inglês pela primeira vez em 1966. E ele poderia vencer em qualquer condição, desde o calor e as colinas de Atenas até o chuva fria e ventosa de Boston em 1970. Lá ele eliminou o campeão de Fukuoka Jerome Drayton a 10 milhas e correu seu tempo recorde, apesar de ter que soprar nos dedos para se aquecer e, disse ele, “não ter ideia do ritmo porque Eu não entendia as divisões estranhas que Boston usava naquela época. ”

A maior decepção de Hill foi a maratona olímpica de 1972 em Munique, onde começou como co-favorito. Seu desempenho foi afetado pelo massacre terrorista, e o adiamento da corrida por um dia interrompeu seu cronograma meticulosamente científico de nutrição e outros preparativos pré-corrida. Ele ficou em sexto lugar atrás da vitória de Frank Shorter.

Com um doutorado em engenharia química têxtil e uma atitude perfeccionista em relação à corrida, Hill foi um pensador original que aplicou sua mente científica ao esporte que amava. Ele foi o pioneiro em muitos desenvolvimentos que agora estão em uso regular, como roupas sintéticas, coletes de malha (para ventilação), “shorts da liberdade” e tiras reflexivas para segurança ao correr no escuro. Ele fundou a Ron Hill Sports, uma empresa de roupas que ainda opera sob diferentes proprietários, e mais tarde a Hilly Clothing. Ele também foi o primeiro corredor mundial a usar carbo-load na preparação para a maratona, e um dos primeiros a correr frequentemente descalço em atletismo e cross-country. Ele até venceu a maratona britânica de Beverly com os pés descalços (2:26:33), e seu plano de correr a maratona olímpica de 1972 com os pés descalços só foi frustrado quando partes do percurso foram recapeadas com novos seixos de pedra.

Ele também foi pioneiro em uma distância de corrida até então desconhecida chamada meia maratona, vencendo a primeira vez realizada no Reino Unido, em Freckleton, Lancashire, em 1964. Seu 64:45 ainda é o recorde da corrida. Mais tarde, ele criou o evento Tour of Tameside de seis dias, outro novo conceito, e correu nele por muitos anos.

Nascido Ronald Hill na cidade de fabricação de tijolos de Accrington, na extremidade oeste de Pennine Hills, sua vida refletiu aquela cúspide entre o norte industrial da Inglaterra e os pântanos abertos. Ele sempre morou perto de Manchester, mas fora de sua conurbação. Sua última casa em Hyde ficava a apenas 30 milhas ao sul de sua cidade natal, ainda perto dos Peninos. Um menino que cresceu durante a guerra e o racionamento de comida no pós-guerra, Hill não mostrou nenhuma habilidade esportiva até que descobriu, em sua adolescência, que seu corpo pequeno (1,50 metro, 134 libras) era uma vantagem para a corrida. Ele se tornou, em suas próprias palavras, um “fanático” e, em sua forma sistemática, logo adotou um regime de treinamento de 13 sessões por semana, exposto em sua autobiografia meticulosamente detalhada em dois volumes, The Long, Hard Road (1982). Ele sempre homenageou sua esposa, May, por ajudá-lo a trazer estabilidade disciplinada para sua vida depois que se casaram jovens em 1960. Eles tinham dois filhos.

Com o declínio de sua carreira de elite, Hill continuou competindo, mas nunca se tornou um grande candidato a mestre. Seu foco se tornou sua “tendência” inovadora. Ele correu todos os dias por pelo menos uma milha de dezembro de 1964 até janeiro de 2017, um total de 52 anos e 39 dias, incluindo mancando de muleta após a cirurgia de joanete. Para muitos admiradores, essa seqüência foi sua conquista suprema. Agora, uma organização formal supervisiona centenas de “streakers” e, quando o recorde de Hill for quebrado, certamente será um evento de mídia.

Mas Hill sempre buscou um novo desafio, então em seus últimos anos ele começou a perseguir o alvo do colecionador de corridas em todos os países. Isso não aconteceu, mas ele cumpriu sua meta revisada de ganhar as medalhas de finalizador em mais de 100 países, finalmente correndo no Panamá e nas Ilhas Faroe. Ele estimou suas milhas vitalícias em cerca de 160.000, o que é provável que seja preciso, dado o registro meticuloso de cada corrida.

Hill recebeu inúmeras homenagens, incluindo o reconhecimento real de MBE (Membro do Império Britânico) e a Liberdade de Tameside. Em maio de 2018, aos 79 anos, ele anunciou que tinha Alzheimer, mas pretendia permanecer ativo. “Esperançosamente, isso dará a outras pessoas a impressão de que a demência não é algo para se temer e que não deve haver nenhum estigma associado a ela”, disse ele.

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